26.02.23
ERAMOS TANTOS
- Há certas alturas na vida, que a saudade
Nos dá uma pancada forte no coração
Que nos vai deixando de rastos
Porque fios de memória nos assaltam
Vindos não se sabendo bem de onde
Na minha juventude, em minha casa
Ali para os lados de Alvalade
Éramos tantos, muitos mesmo
Éramos dezassete, e por vezes mais
Quando mais alguém aparecia - Éramos uma verdadeira família,
Apesar de muitos
Não éramos a família perfeita
Como nenhuma é
Mas éramos uma família no sentido
Mais lato da palavra
Irmãos, éramos nove, mais pai e mãe
Avó, três primos, tio e tia
Era o que se pode dizer, uma casa cheia
E até, também nos fazia companhia
Um ou outro cão rafeiro, que
Nós os miúdos levávamos lá para casa
Já não falando da passarada
Que nos pareciam tão felizes como nós - Todos se sentavam à mesma mesa
E escusado será dizer, que era uma festa
Éramos os reis da vida, pobres mas reis
Hoje dava tudo só p’la felicidade
Desse quadro da altura
Agora, ainda me lembro
De como éramos tão unidos
Apesar de lá em casa entrar
Parcas moedas dos salários
Dos meus pais, e tios
Fazendo eles autênticos milagres
Para dar de comer a tanta boca
Hoje já quase que não se pode dizer
Como dizia minha mãe:
“Onde comem dois... Comem três”
Mas ali, esse número
Era sempre a multiplicar
Hoje já não somos tantos
Pais, tios e avós já não estão cá
E nós, irmãos e primos, cada um
Tem a sua vida e seus filhos
E já vai sendo mais difícil
Vermo-nos todos ao mesmo tempo
A não ser, para um ou outro momento
E por vezes, bem difícil é esse momento
Que saudades eu tenho
Do tempo, onde éramos tantos - E tão felizes
- De: Fernando Ramos