723 - OS PUTOS DE ALVALADE
Fernando Ramos, 10.12.17
- OS PUTOS DE ALVALADE
- Eram os Índios do bate bola
Jogavam até de madrugada
Enganavam o estômago
E não corriam de cartola
Brincavam descalços na estrada - Outros, não eram índios de bola
E no Vává, falavam de amores
Também jogavam, calçados de sola
Alguns deram poetas e bons cantores - Os putos indios de forma desprendida
Chutavam a bola pelos cantos
Num chão batido, com pés em ferida
Parecendo pardais, pois eram tantos - E estes miudos do bairro de Alvalade
Todos os dias jogavam à bola
Numa irmandade de feliz vontade
Marcavam golos de alta escola - Hoje, os índios, já lá não estão
E como era tão bonito vê-los correr
Nos bolsos não guardavem tostão
Mas sim muita vontade de vencer - Por vezes, num drible de mestre
Alguns saiam de sua pobreza
Os outros, de vida menos agreste
Eram amigos na sua tristeza - E na boa vontade de Deus
Os putos entre eles jogavam
Uns pobres, outros de dinheiros seus
Mas o futebol, a vida a todos ensinava - Estas crianças, leves como a pena
Pela brincadeira não se perdia
Em dias e noites era a bela cena
Vê-los no bairro jogar de alegria - De: Fernando Ramos