27.04.22
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O AÇÚCAR DO MUNDO
- Grito por ti meu irmão,
grito que vem bem de dentro
das profundezas do desespero
Grito que voa em direcção
dos senhores do mal,
da guerra, do ódio, do dinheiro fácil
Um grito em favor de quem
não tem mais lágrimas que foram
saboreadas, mastigadas como pedaço - de pão.
- Pão que falta no regaço do infeliz,
do pobre, que sofre, sofre - e tu sem compaixão
- Ouve o desprezo, ouve o horror,
- ouve o povo fluindo de dor,
- em milhões de lágrimas choradas
- Tu nada mereces
nem sequer o cantar da cotovia,
ou o manso prazer da sombra
do monumental e velho Sobreiro
Não mereces a simples gota de chuva
Não ouves o terror, - o grito da criança, filha da desgraça,
a gemer com sua mãe,
como será possível? - Tu que te vais banqueteando
em manjares de rei,
não vês a teu lado a fome que causas,
não tens um pouco de preocupação
Não tens o prazer da caridade, nada vales
És apenas uma simples coisa,
para os justos, nada serves - Não sabes o que é o açúcar do mundo
Vê como é bonito o sorriso da menina,
o olhar da mãe, o dar a mão a um irmão
Vê como é bonito ler Homero, Shakespeare,
Camões, os Amores de Flor Bela Espanca,
ouvir Mozartt, um concerto de Chopin,
ou sentir o arrepiar da pele
pela emoção de um fado de amor, e vida
Vê como é bonita a natureza,
vê como é bonito a gloria de Deus
Tu não sabes o que isso é,
só sabes o menos importante,
olhar o monte vazio de amor,
o tilintar das moedas,
o rufar dos canhões que te trás poder
Tu não prestas, és a tristeza da vida
Tu não tens futuro- De: Fernando Ramos