1069 - BEBER NA FONTE DA SAUDADE
Na rua velhinha de Alfama
Na tasca que já vendeu o pecado
Manuel, o dono pede em voz branda
Silencio porque se vai cantar o fado
A fadista castiça de voz doce
Que vai beber à fonte da saudade
Canta um fado que o coração trouxe
De lugares que são eternidade
Aquela tasca tantos deslumbra
Porque o ambiente assim o quer
Não perturbando de maneira alguma
A voz quente da graciosa mulher
A fadista seu corpo ajeita
Puxando o xaile para si
Canta um fado de desfeita
De um amor encontrado ali
Há algo mágico que atrai
Tanto povo à tasca antiga
Manuel diz: ninguém sai
Sem ouvirem o fado maravilha
E naquele aconchego de bem viver
Pede-se vinho, sopa e azeitonas
P´ra mesa de madeira, e pequena
Com toalha das cores do amazonas
E as guitarras vão trinando
P´ra felicidade dos amigos presentes
O dono da casa vai entregando
Iscas pedidas p’los clientes
Que bem se está por ali
O fado vadio faz o sentimento
Todos o cantam chamando a si
A emoção feliz do momento
Ali ri-se, bebe-se e come-se
Num ambiente bem consensual
A tristeza que vagueia some-se
Na voz da fadista tradicional
De: Fernando Ramos