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FERNANDO RAMOS

Minha Poesia


30.04.23

 

 

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LUGAR NENHUM

Hoje recordo quando te ouvia a fala

E tanto me beijavas sem demora

Como belo é o silencio que exala

Estas minhas lembranças agora

 

Nem a folha que lá fora se agita

Me faz esquecer esses doces tempos

Mesmo que o vento traga a saudade aflita

E nem que meu peito grite seus lamentos    

 

Este é um desejo consumido

Nos subúrbios da louca paixão

Mas nunca é um momento perdido

Que navega em águas de minha desilusão

 

Agora vejo como um magnifico clarão

O que passa por minha memória

Desses tempos que te roubei o coração

Que juntinho ao meu era a melosa glória

 

Hoje todas estas recordações

São como notas de música estranha

Composta na pauta de lamentações

Que p’la minha alma se entranha

 

Sofro por tua longa ausência

Que a lugar nenhum me conduz

Fica ao abandono toda a vivência

Que nem se resguarda na minha cruz

 

  De: Fernando Ramos


28.04.23

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 À CHUVA

  • Fico parado sem sentir o tempo
  • E a chuva cai em meu corpo envelhecido
  • Alguém p´ra mim olha, e eu não sinto
  • O que importa mesmo é o momento
  • Que ao frio da agua, me dá um arrepio
  • Mas eu não lamento
  • Fazendo-me recordar tempos idos
  • Da minha meninice
  • E a chuva atrevida vai em queda
  • Sem cessar, sem cessar
  • Passando por meu corpo
  • Como um acto divino da natureza
  •  
  • De: Fernando Ramos 


26.04.23

 

 

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  • SE EU PUDESSE
  •  
  • Se eu tivesse o dom do vento
  • Soprava amor a todo momento
  • Fazia voar p´ra longe a injustiça
  • Tirava a dor do pensamento
  • E acabaria com a má preguiça
  •  
  • Mas se eu tivesse todos os dons
  • Terminaria com as guerras
  • Pintava a paz de lindos tons
  • E a todos oferecia férteis terras
  •  
  • Ai se eu pudesse... Deitava fora
  • O orgulho, a mentira e a miséria
  • Decretava leis sem demora
  • P’ra política ser coisa séria
  •  
  • De: Fernando Ramos


24.04.23

 

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FUTURO CANALHA

  • Os excluídos calcorreiam as ruas costumeiras
  • Bem pertinhas de suas casas
  • Eles são os filhos da inconsciência
  • De quem Governa seu ganha pão
  • Estas são as virtudes de um governo sábio
  • Tão sábio que deixa homens e mulheres
  • Perto dos cinquenta anos de idade ou mais
  • ou ainda mais novos
  • Entregue ás mãos de um patrão esperto
  • Afinal mais esperto que os governos sábios
  • Metidos em redomas de vidro onde se fecham
  •  
  • Eles se aproveitam de pequenos pormenores
  • Até os mais escondidos
  • Nas leis elaboradas p’los tais sábios governos
  • Que dizem aprovar estas ditas leis
  • Em defesa da estabilidade e da liberdade
  • Mas qual Liberdade?
  • Quando pessoas vivem à mingua e à sorte
  • E outros se aproveitam da sua fragilidade!
  • Sabe-se lá com que interesses...
  •  
  • Não são certamente o destes excluídos 
  • Que sussurram p´las esquinas das cidades
  • A seu pobre coração sobre a falta de afectos
  • Dos misteriosos governos sábios
  • Que maquiavelicamente
  • Em determinadas alturas da vida
  • Tem sido fieis causadores 
  • Dos maus momentos de tristes destinos
  •  
  • Os dias dos excluídos se confundem
  • Uns com os outros
  • Como se fossem um relógio
  • Sem ponteiros que nunca se adianta
  • Nem nunca se atrasa
  • E eles mergulhados nesta verdade feia
  • Pensam que são demasiados novos
  • Para receber a sua reforma conquistada
  • Em longos anos de labor
  • E demasiado velhos para trabalharem
  • Como um direito que vem escrito
  • Em todos os manuais da vida humana
  • E afinal não passa de uma farsa bem ferida
  •  
  • Este não é aquele favo de mel tão doce
  • Como doce era o sabor de se sentirem úteis
  • P´ra sua meia idade como sempre aspiraram
  • Este é um pesadelo dos mais sinistros
  • Que agora vive em todos os excluídos
  • E que amanhã, infelizmente
  • Continuará a viver com outros sem sorte
  • Que terão as mesmas ruas
  • As mesmas esquinas
  • Para olharem  para um horizonte
  • Onde certamente e calmamente
  • Passeará o dinheiro dos espertos
  • E o absurdo puder dos sábios
  • Num futuro canalha
  •  
  • De: Fernando Ramos


22.04.23

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PULOS DE FELICIDADE

Pobre mundo que nos rodeia

Vivendo ao sabor do vento

Triste futuro desencadeia

Faz-nos sofrer no seu tempo

Será preciso... Outro encontrar

Mais amante, solidário e seguro

Tanta ajuda se irá precisar

Nesse trilho longo e escuro

 

Serão relâmpagos de desilusão

Que na caminhada irão aparecer

Encontra-se pedras de alucinação

Dum duro chão, a percorrer

Mas anseia-se por um sonho lindo

Como mares de preciosos corais

Para trás ficará um mundo findo

Outro nascerá... De novos rituais

 

Ouvir-se à corações a sussurrar

Não por falta de novos afectos

Mas sim p’lo fim do triste caminhar

Que terminarão com longos desertos     

O amor, o amor de novo voltará

Sorrindo no aconchego da liberdade

A paz outro caminho percorrerá

Onde se pulará na imensa felicidade

 

Este é um gracioso desejo

Se acontecer... Esse futuro eu beijo!

 

De: Fernando Ramos


20.04.23

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  • AMOR SEM JUÍZO

Eu preciso de te falar

De beber teu sorriso

Já não sei como calar

Meu amor sem juízo

 

Tive um erro imperdoável

Cometi a traição num impulso

Dei-te a dor insuportável

Sofres deste meu abuso

Não ando nesta vida

Sem primeiro a razão escutar

Não a ouvi, germina a ferida

Da verdade difícil de aceitar

 

Eu preciso de te falar

De beber teu sorriso

Já não sei como calar

Meu amor sem juízo

 

Tanto abracei p’ra te proteger

De alguma insensatez voraz

Mas acabei por te perder

Não sei como fui capaz

Vivemos um belo amor

E te fiz juras sem ilusão

Trai-te... Agora sobra a dor

Jamais concedes teu perdão

 

Eu preciso de te falar

De beber teu sorriso

Já não sei como calar

Meu amor sem juízo

 

De: Fernando Ramos


18.04.23

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DOCE MÃE

Na beira do rio sob a gratidão infinda

A doce mãe seu filho adormece

E naquele silencio a flor mais linda

Fragrâncias de sonho à noite tece

 

Na noite bela, tão bela como uma borboleta    

A Senhora mãe a seu menino sorri

No horizonte imaginado se abre uma greta

Mostrando à mãe um mundo ruim

 

Pensando ela... É mais bonito a beira do rio!

Onde reside o amor a viver em bonança  

E naquele quadro não bate o beijo frio       

Apenas p’ra seu filho a fiel segurança

 

A Mãe daquela beira jamais quer partir

Ali onde escuta o conversar das flores

Que por vezes muito a fazem sorrir

Enviando pró vento, maravilhosos odores

 

Naquele berço coberto pelo céu

A mãe sussurra ás estrelas que a cativa

Pede-lhes o amor quente dum seio seu

P’ra que seu menino em pureza viva

 

Depois do entardecer quando o sol já ia

Um poema se escreveu p’ra  seu espanto

À beira do rio o declamou na orvalhada fria

Empregnando ao momento, tanto, tanto encanto

 

E já na noite cativante de azul comovente

Olhando pró infinito das profundezas do luar

A doce mãe, ao menino oferece seu seio quente

Murmurando-lhe no rosto canções de embalar

 

De: Fernando Ramos


16.04.23

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  • TROVAS DO BANDARRA NA GUITARRA
  • Trinam trovas na velha guitarra
    Numa castiça viela de Alfama
    Do poeta sapateiro, o Bandarra
    Que o povo deste país aclama
  • No dedilhar da nota inspirada
    Surge o desvaneio precioso
    Numa profecia à muito contada
    Do famoso Bandarra, de Trancoso
  •  
  • E guitarras murmuram em liberdade
    Trovas do ano de mil e quinhentos
    Que um poeta escreveu com felicidade
    Ofertando-nos hoje belos momentos
  • Foi a mestria popular do Bandarra
    Que a vil inquisição um dia castigou
    Hoje, ela é lembrada p’la velha guitarra
    Tocando profecias que Portugal herdou
  •  
  • Foi perseguido maltratado e preso
    Pelo regime que não o levou a sério
    Este génio rebelde duro e teso
    Que profetizou o Quinto Império
  • Ouvem-se tantas trovas excelentes
    Na noite bela e serena
    No ar bailam gemidos comoventes
    De guitarras a chorar de pena
  •  

De: Fernando Ramos


15.04.23

828.jpeg

  • CATARINA
  • Tu Catarina, uma lição deste
    Ao esbirro do poder, que te mataria
  •  
  • Grávida por um amor que tiveste
    Enfrentaste o fascismo que consumia
  •  
  • Esta pátria de impuros que te esquece
    Pouco se importa com tua valentia
  • Mas o povo
  • O povo que te ama
    Não esmorece
  • Que como tu
  • Luta p’la justiça noite e dia!!!
  •  
  • De: Fernando Ramos

    (Catarina Eufémia) 


14.04.23

827 (2).jpg

  • O POVO DESEMPREGADO
  • Vejam o povo
    Que vai na praça
    Gritando a fome
    Que o espirito não acalma
    Choram a miséria
    Num sol de Maio
    Com a raiva livre
    Bailando na alma
  •  
  • Cantam entre amigos
    A dor da fome
    Em baladas ao vento
    Que desfraldam velas
    Ouvem a brisa
    No murmúrio lento
    Sacudindo a morte
    Debruçando-se
    P’las janelas
  •  
  • É o povo desempregado
    Na sua negra tormenta
    Suplica por migalhas
    Do magro salário
    Que o pobre estômago
    Não lhes alimenta
    Restando a rua
    Como Santuário
  •  
  • Juntos, na malévola
    Pobreza tristonha
    Mostram com raça
    Sua determinação
    Lutando de pé
    A injustiça enfadonha
    Chegando-lhes à pele
    A prisão sem fé
  • Que p’ra eles estranha não é
  •  
  • E as pálidas nuvens
    Negras silenciosas
    Se abatem sobre a razão
    Em noites bem misteriosas
    Matando um povo
  • Que apenas pede
    Trabalho e pão
  •  

De: Fernando Ramos

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