12.01.23
GENTE BONITA
Num belo Abril floresce o bonito cravo
De pétalas empregnadas de conquista
P’ra muitos, e muitos, é um feliz fado
Na rouquidão da voz, do grande artista
Nasceu numa boa manhã de Abril novo
Num Portugal onde a paz já se grita
Abriram-se prisões, soltou-se um povo
Da terra abençoada, de gente bonita
Vieram trovadores, e todas as artes
Cantar na rua a balada bem catita
Partiram pró estrangeiro, alguns trastes
Fugindo na crista da ganância banida
Lançaram-se foguetes por tanta glória
Chorou-se a poesia à muito escrita
Ecoaram das almas gritos de vitória
Da terra abençoada, de gente bonita
Espera-se que todos saibam conservar
Tal grandeza da extraordinária pepita
Cravos de amor, muitos se irão plantar
P'ra que ao povo, não falte preciosa sopita
Apareceu esta paz, julgada perdida
Nos bons corações amarrados por guita
Cantou-se Abril, na garganta ferida
Da terra abençoada, de gente bonita
Desfraldaram-se bandeiras de tanto amor
De pura fazenda, que não era de chita
Ofereceu-se pão, a quem comeu a dor
Nos bairros tragados p’la miséria dita
Somos um povo que jamais se irá curvar
Ao déspota carrasco, da mágoa aflita
Contra ele, a injustiça irá bem lutar
Na terra abençoada, de gente bonita
Oh! Como é bom viver, assim liberto
Na heróica pátria, em páginas descrita
P’lo ilustre Camões, num belo livro aberto
Na terra pisada por gente bonita
E hoje não sabemos se Abril é memória
Porque gentes de vintem o vão destruindo
Chora o povo por pão, trabalho e gloria
e por outro Abril que se irá construindo
De: Fernando Ramos