Nos meus tempos de soldado Procurei a paz dos honestos Na África do meu amor Ali na terra vermelha e fértil Da savana Africana
Nas margens dos rios De todas as ofertas da natureza, Os animais buscam sua presa A fim de saciarem a fome Como se ali fosse a única Parte do mundo onde Deus passou Deixando um rasto de beleza
E de perfume celestial
Naquelas terras que fazem bater
Mais forte os corações de todos
Por vezes numa aldeia qualquer Duma terra Africana Ao som do velho batuque Meninas de lábios gulosos E meninos de modos de desejo Bailavam como se aquela Fosse a última dança A dança do resto de suas vidas Na esperança que a paz, A paz dos justos, Voltasse a esse lugar sagrado Onde os homens são mais irmãos
Tudo isto me encanta E tudo isto me marcou
Porque lá, há sempre alguem
Que nos mostra que naquele meio
Ainda vale a pena sorrir
Enchendo-nos o coração de ternura Recordando eu, hoje e sempre Com satisfação e orgulho Esta África do meu amor
No beco do bem saber Ivone leva tristeza no coração Que de olhos colados ao chão Murmura p’lo seu tanto querer
Na pura e cristalina aflição
E no parapeito de sua janela Sente-se a frescura do alecrim Todos o cheiram com cautela Não passe seu amor por ali Ao encontro da outra, na viela
No Beco, se abrem janelas P’ra anunciar a procissão Alguém com flores amarelas Informa o povo da decisão Preparada p’lo prior,
À noite à luz das velas
Para a bendita procissão O Beco se vai engalanar Ivone, reza sua consternação Ao amor que anda a enganar Seu pobre e infeliz coração
Foi no domingo à tardinha A procissão levou o povo p’ra rua No andor pousa uma andorinha Que traz a verdade nua e crua P’ra Ivone que vai à igreja velhinha
E gorjeia que a outra está chorosa Por lhe ter acontecido o mesmo drama Foi enganada de maneira horrorosa P’lo homem que a levou p’ra cama Causando-lhe aflição dolorosa
E naquele afamado bairro de Alfama Um amor perdido encontrou a razão Pois é Ivone, a sua preciosa Dama Que lhe preenche o doido coração
Na velha igreja junto ao altar Lá estava a mentira desgostosa Chorando a lágrima do perdão Suplicando nova vida amorosa
Tudo não passava de sua ilusão
E no Beco, se acendeu nova chama P’ra felicidade de um coração É Ivone que ele muito ama Terminando ali sua confusão
Atravesso o Deserto Como se fosse em peregrinação À terra prometida Ele, é a minha esperança, E também o meu cansaço
Nele, vou encontrando Nuvens de areia Que são grãos finos instalando-se Na minha vida repleta De ilusões, e de amores Não conseguidos
Neste deserto, levo a esperança Como única companheira E como minha ancora Que me irá fazer parar na caminhada E terminar com os Generosos dissabores da vida
Percorro seu chão escaldante E tão movediço como meus sonhos que me corrói de dor, de rejeição De abandono, e da perda De paz, a minha paz
Maldito deserto que não consolas Esta sede de esperança, E me levas para um caminho Sem direcção certa, E de futuro pouco brilhante
Agora, neste mau deserto Aguardo apenas o sinal de Deus Que me irá conduzir na sua nuvem Sem desespero, e sem mágoa Mas encharcada na paz divina
Onde me levará a juntar A outros peregrinos Também eles vivendo Num deserto de medos E que comigo caminharão Lado, a lado na nova travessia, Direito à esperança celestial