Vou folheando, páginas brancas que vão por meus pensamentos Não reajo com qualquer azedume a elas Meu triunfo está em outras páginas, aquelas que marcam a história da minha vida Que eu gostaria que um dia, um editor não as colocasse num escaparate da minha cidade Isso me dá alento para prosseguir, contando cada peripécia, especialmente as que me enchem de orgulho Aquelas que saem da inspiração da vida, onde cada cena
gravarei no livro do destino São factos reais, e não palavras inventadas com as sílabas certas para um soneto Lá, estará a minha paixão, em frases escritas que simbolizam o meu amor p’la vida, pela escrita, e pela arte, como um acto de posse E na certeza que só muitos poucos as conhecerão
lembranças de outras viagens em meu veleiro Comigo, numa dessas viagens ia Manuela, hoje a minha formosa musa
Em pleno mar, largo e sem fim que dá colo a seus filhos Nós olhávamos o horizonte aos fins de tarde sentindo a vaga
no despertar das horas tardias
Convidando-nos ali
nos amarmo-nos num encontro de quem vai,
e de quem sai, do manso vai vem da onda
Já passou algum tempo dessas nossas agradáveis viagens, tendo entretanto casado com a musa
Agora sozinho, aqui vou no meu velho veleiro cumprindo mais um programa de trabalho ligado ao estudo do mar, que me obriga a esta solidão e vai parindo a saudade, do amor obsessivo que é um latejar permanente em meu peito
Essa tremenda saudade de Manuela, me faz ansiar a chegada ao cais, levando meu coração seguir um caminho tão rápido quanto possível, para a sentir em meus braços, e em seus lábios me saciar E quem sabe, ela retribuir-me toda a sua loucura de saudade, tão intensa e carente de afagos, como a que se espalha por este velho veleiro de recordações