Toma cuidado menina Com a promessa que te vão fazer É traiçoeira, e não genuína Mil cuidados tu deves ter
Oferecem-te o céu e a lua Jóias, carros, e perfumes Depois abandonam-te na rua Triste e de tantos queixumes
Toma cuidado minha amiga Porque nem tudo o que parece, é Poderás sofrer e andar perdida E do futuro perderes a fé
Não sejas fácil de ceder O ouro não te vem parar à mão Serás tu que irás sofrer Chorando lágrimas do coração
Toma cuidado minha flor Não credites em promessas sem fim Aguarda pacientemente pelo amor Vais ver que aparece por aí Tua vida agora é um encanto Se não te iludires, nada vai acontecer Pede protecção a teu Sagrado Santo Não deites tudo a perder
Sou um simples Pastor Vagueando por ruas escondidas Falo a corações com grande fervor De vidas sofridas e perdidas
Amo a grandiosa natureza, e a paz E as crianças que vivem na rua Ao pecador Prego tanto, e mais, se for capaz Até Deus o perdoar, numa paróquia sua
Sou apenas um simples Pregador Que todos os dias p’las nove horas em ponto Oro a Cristo, p’ra me conceder este esplendor De servir os outros, feliz e sempre pronto
Quero ser sempre assim, e assim viver Que o Divino me conceda tal graça P’ra que eu, todos os dias até morrer Pregar o bem, como o destino ele me traça
Grito por ti meu irmão, grito que vem bem de dentro das profundezas do desespero Grito que voa em direcção dos senhores do mal, da guerra, do ódio, do dinheiro fácil Um grito em favor de quem não tem mais lágrimas que foram saboreadas, mastigadas como pedaço
de pão.
Pão que falta no regaço do infeliz, do pobre, que sofre, sofre
e tu sem compaixão
Ouve o desprezo, ouve o horror,
ouve o povo fluindo de dor,
em milhões de lágrimas choradas
Tu nada mereces nem sequer o cantar da cotovia, ou o manso prazer da sombra do monumental e velho Sobreiro Não mereces a simples gota de chuva Não ouves o terror,
o grito da criança, filha da desgraça, a gemer com sua mãe, como será possível?
Tu que te vais banqueteando em manjares de rei, não vês a teu lado a fome que causas, não tens um pouco de preocupação Não tens o prazer da caridade, nada vales És apenas uma simples coisa, para os justos, nada serves
Não sabes o que é o açúcar do mundo Vê como é bonito o sorriso da menina, o olhar da mãe, o dar a mão a um irmão Vê como é bonito ler Homero, Shakespeare, Camões, os Amores de Flor Bela Espanca, ouvir Mozartt, um concerto de Chopin, ou sentir o arrepiar da pele pela emoção de um fado de amor, e vida
Vê como é bonita a natureza, vê como é bonito a gloria de Deus Tu não sabes o que isso é, só sabes o menos importante, olhar o monte vazio de amor, o tilintar das moedas, o rufar dos canhões que te trás poder Tu não prestas, és a tristeza da vida Tu não tens futuro
A mulher mais nova pisa as pedras da rua da vida Do bairro mais negro, mais negro que a noite Lá, é o seu local de ganha pão Ela, a prostituta mais gentil e mais formosa daquela rua, todos os dias está por ali
Os homens, ela os cativa com sua sensualidade, p’ra seu leito triste e melancólico, onde viola sentimentos sem remorsos descabidos, no seu cruel e perfumado prazer, impondo-lhes um destino solitário e perigoso e tão cruel como o dela
Naquela rua da vida, a prostituta pensa nos dias da árdua luta de viver, que a fazem voltar sempre ali Saciando seu mórbido prazer de pensamentos retalhados e atrozes, consumidos p’la droga diária que seu corpo permanentemente e pontualmente, anseia
A mulher mais nova, sofre estes dramas pungentes, de cruas verdades, que a fazem viver na rua, onde a encontrarão sempre, até que a morte se decida
Sr. Manuel, homem ilustre e bem vivido Que já bateu nos cinquenta Um dia na vida se viu perdido Porque com ele, nenhuma mulher aguenta
Numa bela tarde ao lusco-fusco Encontra a Rosa numa avenida da cidade Olhou para ela admirado, e a custo Sorriu, e tomou alguma liberdade
“A senhora não é uma mulher qualquer” Dª. Rosa apanhou um susto, e reagiu mal Não gostou, era demais para esta mulher E ainda por cima com a sua idade actual
Ela também já é uma boa cinquentona Mulher feita, e bem feita, Louva a Deus Assim pensava o Manuel, daquela dona Para ele, era perfeita p´ra encontros seus
Bom... Com esta vou acertar, pensa E lá se pôs a convidar a bela Rosa Para umas saidinhas, que a deixou tensa dando ela como resposta, mas já furiosa:
“Ouça seu atrevido, desse ao respeito” Esta é que o bom do Manuel não esperava Ele ofereceu-lhe logo a preceito Malmequeres, e dizendo que com ela casava
Dª. Rosa ia desmaiando Mas não perdeu aquela oportunidade Disse que estava bem, e que com ele ia casando Porque eram tempos difíceis p´ra sua idade!
Oh meu Deus! Falamos contigo e não respondes! Qual o teu mundo, qual a tua estrela? Em que local do céu te escondes que nem sequer te ouvimos
À mais de dois mil anos que o mundo grita por ti em preces de aflição Onde estás Senhor que não ouves as suplicas do mundo
O mundo gira em desespero. ouve Senhor o nosso grito Ouve pelo menos o grito dos bons, daqueles que de ti anseiam a Santa piedade, o teu perdão prós pecadores
Onde andas senhor? O que preocupa é o grito dos sofredores, e o teu silencio, para com aqueles que vão permitindo este descalabro do mundo, onde a morte, a ganância, e a miséria entre nós vai ganhando um lugar injusto
Junto dos que sofrem
Ouve-nos senhor, dá a tua razão a este mundo, e que a paz seja o sonho constante da vida A vida está a passar num instante, e tu sabes que esse instante é já amanhã, Dá-nos teu tempo senhor p'ra nos perdoares, dá-nos a tua bondade
Ouve-nos senhor, pedimos tua clemência para os não merecedores de tua graça Concede-nos sempre, e p´ra sempre o teu mar de amor