- SOLIDÃO COMPANHEIRA
- As palavras não se soltam
Da minha garganta
Soluços secos abanam meu corpo
Como uma árvore ao vento
Na minha frente vejo um mendigo
E um nó na alma se revolta
Por este triste quadro
Que me retalha o coração - Olho o pobre deitado no chão
E o que vejo, são dias difíceis
E vou meditando
Sobre a miséria humana
Como é possível! - Pessoas, por ele vão passando
E nem sequer o olham
Nem fazem um mínimo esforço
Para ver o infeliz homem - Que lhe falta um mundo
- Com olhos de amor e de verdade
Metido naquele quadro tão solitário - Ele, deitado numa caixa de cartão
Que é seu leito do momento - Num dia frio de Outono
- Nem faz o mínimo movimento
E nem deverá pensar em dali partir - Sabendo que se o fizer
- Apenas lhe espera as indeterminaveis
- Linhas tortas da vida
Mesmo que queira partir
Daquela solidão, certamente
não poderá
Mas para onde iria o pobre infeliz?
Pergunto a mim mesmo! - O mundo gira, gira à sua volta
Com correrias para cima, e para baixo
Sem que as pessoas
Dêem umas pelas outras
Mostrando que apenas
Estarão tão sós como o homem
Ali deitado na calçada - Mergulhado na louca dor
- que nunca lhe será curada
Sentindo o futuro fugir-lhe
Para algum lado sem regresso
Sobrando-lhe apenas
A solidão companheira
Pobre mundo que tratas tão mal
Os teus filhos! - de: Fernando Ramos