
SORRISO DANADO
Num dia lindo, e muito feliz
Algumas crianças de pouca idade
Joãozinho, Carolina, e o Luís
Visitam o Zoológico de sua cidade
Que bonito que é, e como felizes estão
Suas mamãs, tratam-lhes do bom farnel
Que entregam ás educadoras dessa ocasião
P’ra no jardim, almoçarem bifinho ou pastel
Estão alegres e impacientes, os pequeninos
Sente-se as crianças mais felizes do mundo
Como justa é a vida p’ra alguns meninos
De ricos privilégios, e bem estar profundo
Elas sorriem, brincam, e trocam beijinhos
Suas educadoras são de mil cuidados
Como é bonito, vê-los junto dos golfinhos
E de mais bichinhos muito bem tratados
Noutro ponto da cidade, vive o Amadeu
Criança sem nada, também de pouca idade
Mora num bairro sujo, e escuro como breu
Onde se ouvem gritos de vidas sem saudade
Seus pais, pobres e de trabalho incerto
Convivem mal com os míseros tostões que ganham
Cortando, e cozendo solas, para um patrão experto
fazendo sapatinhos finos, que à moda não falham
Esta criança, nascida do ventre da desgraça
Também labuta, ajudando seus pobres pais
Que de manhã cedinho, o despertam sem graça
Oferecendo-lhe trabalho, e poucas coisas mais
Raramente Amadeu vai à sua escola
Tem pena, e quando vai, vai muito feliz
Leva sempre, um pãozinho na sacola
P´ra quando a fome aperta, seu estômago petiz
Amadeu ajuda, desde que deixou de gatinhar
Já é indispensável, no seu trabalho delicado
São mais uns dinheirinhos, prós pais ganhar
E ele feliz, oferece-lhes seu sorriso danado
Sorriso tão lindo, como os das crianças contentes
de vida generosa, e de futuros menos chorados
Tudo lhes dão, até brinquedos de presentes
Custando mais, que pão e leite dos menos felizardos
de: Fernando Ramos