16.10.19
SÓ ME PEDIAM EXPERIENCIA
Subi as arvores quando menino
E comia seus saborosos frutos
Como doces iogurtes
E quando menino comecei a trabalhar
E ainda sonhava ser tanta coisa... Tanta coisa
Até bombeiro, Mágico e Policia
E quem não o queria ser quando menino?
Subi e desci montanhas por trilhos diferentes
Talvez os menos certos
Roubei beijos de paixão e outros de ocasião
Fiz juras de amor que nunca cumpria
E hoje meu coração bate
Ao compasso dessa saudade
Comi o pão que o Diabo amassou
Que a mim fez bem, e mal
Mas me moldou como homem
Chorei com meus pais nas lamentações
Tentando conforta-los mas não conseguia
Já bebi até cair num poço de amargura
E tive amigos e alguns inimigos
E lutei para conseguir um ganha pão
E já fui feliz por coisas de nada
Já percorri alguns malefícios da vida
Já me aconselhei com a noite escura
Já perguntei às Estrelas pela minha paz
Já senti a guerra bem perto
E o cheiro da desgraça
Já vi o sangue que não era meu
Numa luta estúpida que levou a nada
Já fui infeliz por pequenas coisas
Conheci mundo ingrato e reles
Já tive receio de sombras e fantasmas
Deles fugi de medo e com respeito
Já senti o agridoce da maldade
Da insegurança, da solidão e da fúria
Já trabalhei tanto para sobreviver
Fazendo tudo que devia e não devia
Já fui jardineiro em meus jardins de sonhos
E em sua relva me deitei até amanhecer
Já fui expulso e explorado na dignidade
Já chorei por amigos do coração
E tanto naveguei num mar de ir e vir
Procurando um porto
Talvez o meu bom porto
Tanto corri em busca de um salário
Pisando a calçada da vida
Suplicando apenas por um trabalho
E só me pediam experiência
Mas qual experiência?
De: Fernando Ramos